segunda-feira

Tarte de framboesas

O meu filho está sempre a pedir-me para lhe fazer uma tarte que, um dia, inventei era ele pequenino. O problema é que quando se inventa, anos mais tarde é impossível repetir, por isso inventei de novo (porém, desta vez,  fica aqui o registo)!
Fiz a base da tarte de limão e de quase todas as minhas tartes doces:
  • 1 pacote de bolacha Maria esmigalhada
  • Aproximadamente 150 gr de manteiga.
Forrei a tarteira e deitei, directamente sobre a base da tarte, uma lata de leite condensado. Aprendi esta técnica, de não sujar loiça, num encontro de bordadeiras luso brasileiras. Nesse encontro a receita de uma tarte de laranja, é que me deu ideias de como fazer esta tarte de framboesas.
Ao leite condensado juntei 3 gemas.
Por cima deste preparado coloquei framboesas,  bem lavadas e escorridas.
Bati as 3 claras em castelo, adicionando açúcar, para fazer suspiro. Cobri a tarte com uma fina camada do preparado de suspiro e levei ao forno. Apesar de ser uma camada fina, "afundou" no leite condensado. Para a próxima primeiro levo ao forno a tarte sem suspiro, para ganhar consistência! 
Finalmente foi  arrefecer no frigorífico. 
Como a tarte, das memórias e sonhos do meu filho, levava chocolate,  servi com um chocolate quente, como quem serve um semifrio.


Enquanto se deliciavam os meus filhos partilharam connosco algumas das suas memórias, tentando chegar às suas memórias mais antigas. O António confessou:
"No dia em que a Mãe fez a "tal" tarte pela primeira vez, eu fiz mais uma das minhas birras para comer a sopa. Sabia que a Mãe não ia ceder, por isso, apesar de ter levado muito tempo a comer a sopa, parei com a birra e comi toda só para comer a tarte da Mãe! Esta está boa, mas gostei mais da outra. A base da tarte era forrada com o chocolate e a Mãe na altura disse que tinha feito mal, porque o chocolate ficou duro. Eu gostei foi do "erro" da Mãe, daquela camada de chocolate tão difícil de cortar!"
Que pena ter feito um esforço para evitar cair no mesmo erro, "erro" que o António tanto gostou!Um forro de  chocolate tão duro que, recordo-me de não o conseguirmos cortar e de termos recorrido à ajuda do martelo de cozinha!

Cuidado com aquilo que desejam!

Sou Mãe, de 3 filhos, com idades muito próximas! Sinceramente, houve dias que eles davam comigo em doida e eram educados! Mas ser criança é brincar, correr, cantar, esgotar as Mães. Tive dias em que desesperei farta do trabalho da casa, das corridas entre escolas, parque infantil, natação e catequeses, finais de dia a vigiar estudos, tirar dúvidas, recapitular matérias para os testes, verificar o material e equipamento para educação física, depois de deitados ainda ia sorrateiramente verificar tudo uma vez mais, para não lhes roubar a sensação de autonomia. Na primária, ao deitá-los, a mais velha gostava de ler sozinha, já a do meio criava os seus contos mas sempre comigo a fazer perguntas. Se me calava ela logo dizia "Não sei o que aconteceu ao meu cavalo branco voador! Não sei para onde me levou!". Ao mais novo tinhamos de lhe ler as histórias. Às vezes  saltava linhas, inventava e lia na diagonal, ouvia logo, "Mas a história não é assim!". Eu ansiava por descanso e tentava encurtar o momento do deitar! Chegavam os fins de semana e em vez de descansar eram preenchidos com actividades escuteiras, passeios e visitas "culturais", sem um bocadinho para recuperar o fôlego para a semana seguinte. Quando chegava o tempo de banhos de mar, lá ia eu, gelada até aos ossos para os vigiar, até ao dia que decidi colocá-los a todos no bodyboard. Nessa altura, quantas e quantas vezes, desejei que os meus filhos crescessem, para serem mais independentes. Hoje são todos maiores, embora "não vacinados"! De uma casa sempre cheia, dias totalmente preenchidos com e para eles, passei para uma nova fase, à qual estou a ter uma certa dificuldade em adaptar-me! O silêncio invade a minha casa, mais vezes do que gostava de confessar. Pior, é preenchido por um enorme vazio. Para evitar a solidão, que às vezes toma conta de mim, dedico-me à culinária.
Hoje fiz bolachas de manteiga de amendoim, com pepitas de chocolate, receita que copiei da culpa é das bolachas.


Enquanto amassava a massa, moldava as bolas e carimbava-as, os meus pensamentos estavam com os meus filhos: uma bolacha para agulosa da Madalena, que fez hoje o seu último exame; uma bolacha para dar energia ao António, mais logo durante o seu último exame; uma bolacha para a Inês que voltou depois de uma ausência de uma semana...E pensando neles sentia-me "acompanhada".  Com carinho fiz  "com eles "uma "montanha" de bolachas!

Pensar que um dia desejei esta tranquilidade, até parece mentira!

domingo

Alentejo

Terra que lava a alma!
Portada do quarto
Bordei...
A Sushi, ronronando, interrompe o meu bordado assim que mudo o bastidor de zona!
Mudei de mesa e a Sushi foi ter comigo!
Booki aguarda adopção responsável, aqui a pedir o suplemento de leite
 Caminhei...






Sobreiro à luz do entardecer
Tricotei...

quarta-feira

Scottish Tapestries

Depois da aventura de bordar um dos painéis da Scottish Diaspora Tapestry, fiquei com imensa vontade de ir até à Escócia, para ver a Scottish Diapora Tapestry e a Great Tapestry.
Tenho andado a estudar a Escócia através da leitura de livros e de blogues, os melhores sítios a visitar, onde ficar, como me deslocar...
Para quem já esteve na Escócia, fica um apelo a sugestões/ dicas!
Para já ficam algumas fotografias do painel bordado em Lisboa.
Canutilho, bordado de Guimarães
ponto pé de flor Português
Ponto frouxo, do Bordado de Castelo Branco
Crivo fingido, Bordado de Castelo Branco
"velhinhas" do Bordado de Castelo Branco (ponto da esquerda)
Ponto torcido, do Bordado de Castelo Branco (ponto da esquerda)
Ponto pé de galo, do Bordado de Castelo Branco (ponto da direita)
 

Matiz, do Bordado de Castelo Branco
ponto grilhão
 Nos diversos encontros, foram bordados todos os contornos a ponto pé de flor; os rios e "vinho" a cadeia. A escolha dos pontos do painel de Lisboa, tornou-o assim mais simples permitindo a participação de muitas bordadeiras, até por crianças da minha Escola!
No nosso último encontro, tivemos o privilégio de ver o painel do Porto, muito rico em pontos, bordado pelo grupo da Méri.
 O nosso painel, tal como o do Porto, foi acompanhado com um livro da "agulha não pica" autografado por todas as participantes desta aventura na ponta da agulha.
 Tudo isto graças à Gabi, da "agulha não pica", que descreveu os bordados aqui, no blog feeling stitch.

segunda-feira

Hora do Tricot

A História Tradicional, que o Luís Correia nos contou...

A Moça Tecelã
Marina Colasanti
" Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear. 
Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte. 
Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, um longo tapete que nunca acabava.

Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos  do algodão  mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.

Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.

Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.

Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranqüila.

Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.

Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.

Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.

Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida.

Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.

E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.

— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.

Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.

— Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.

Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.

Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.


— É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!

Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.

E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo.
Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.

Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins.  Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.

A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou, e, espantado, olhou em volta.  Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.

Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte."
  Os contos da Ana Sofia, quer o cantado, quer o contado também foram muito bem escolhidos e contados, mas não os tenho para partilhar com vocês.
Obrigada Rosa Pomar, por esta "Hora do Tricot".

domingo

Entre Tempos decidi dar a volta ao Tempo

E entretanto decidi ter Tempo!
Ter Tempo para escrever do Tempo que já passou, do Tempo que marcou o meu Tempo, do Tempo em que tive Tempo.
Retomo o blogue, escrevendo do Tempo de ontem e de antes de ontem.
Ontem o Tempo foi "Entre a Serra e o Mar".
  Comecei por tricotar.
 Fiz uma pausa para meditar, dando dois dedos de conversa com "Deus".
 
 Com a conversa em dia, passei à leitura.
 Fazendo pequenas pausas, para dar uma olhada aos meus amigos "Caminheiros"
 Estas patas inquietas pediam-me para largar tudo e caminhar!
 Fiz-lhe um mimo, aguentou uns minutos, depois conseguiu arrastar-me para mais uma caminhada.

Anteontem, no Pavilhão do Conhecimento desafiaram-me a pensar nesse Tempo que no minuto seguinte de ser presente vira passado!
Mas enquanto lá estive apenas tricotei e escutei. Na  "Hora do Tricot", peguei nas minhas agulhas e no meu alfinete, com as mini-meias da Serra d'Ossa, deitei mãos à obra e encantei-me escutando Contos Tradicionais, comemorando assim da melhor maneira a semana Mundial de tricotar em Público.

A saia bordada à mão, da tricotadeira sentada ao meu lado.
Vou tentar dar à volta ao tempo e andar mais por aqui. No facebook tudo passa à velocidade de um fósforo, queimando o tempo, tornando impossível viajar no tempo!
 Espero conseguir fintar o Tempo!